Maiombe | 2016

Maiombe, uma das maiores reservas naturais do mundo. Uma das sete maravilhas de Angola. É o pulmão do país. Palco de várias histórias e contos populares. São mais de 250 mil hectares de vegetação. Aqui respira-se ar puro. A reserva natural faz fronteira com a República Democrática do Congo, a leste com o rio Luali, a oeste com o Inhuca, e a sul os dois rios cruzam-se. Uma floresta tropical que consegue deslumbrar qualquer visitante que por ali passa. Belas paisagens, e os verdes, magníficos, que nela habitam enchem o coração de todos. 
Desde os tempos remotos que a Floresta de Maiombe era usada como forma de subsistência para os povos que nela habitavam. Viviam da agricultura, da caça e da pesca. Esta reserva natural abrange cerca de 250 mil hectares de área com intensa vegetação. É o grande pulmão de Angola. Hoje, Maiombe quer ser muito mais e para isso a ajuda dos fiscais é fundamental. Têm como responsabilidade assegurar a conservação e protecção da biodiversidade. Fazem-no de uma forma simples. Passam informação às comunidades, no sentido de consciencializá-las do que podem ou não fazer. Mais de 56 mil elementos vivem nas comunidades espalhadas pela floresta. Os fiscais procuram implementar regras aos nativos para que estes olhem o parque como uma área de conservação natural. «É difícil mas não é impossível. Estamos a fazer todos os possíveis. Fazemos campanhas, porta a porta, aldeia a aldeia, de modo a criarmos sincronização», conta-nos José Bizi, administrador do parque de Maiombe. O seu objectivo é conseguir mudar a mentalidade das pessoas. Pelo caminho tem encontrado algumas dificuldades. As comunidades têm como base da alimentação a caça de animais selvagens e usam-na de forma irracional. «Agora, nós estamos aqui a mudar a mentalidade. Encontramos algumas dificuldades no seio das comunidades pois a maior parte dos membros da comunidade praticam a agricultura, pesca e a caça. Então, a nossa presença aqui cria uma barreira nos hábitos de consumo deles», confessa Bizi. O repartimento de fiscalização de Maiombe é constituído por 16 fiscais, divididos em dois grupos, que controlam e fiscalizam toda a área florestal. Proteger o ambiente é o que todos os dias esta equipa tenta fazer. Corrigindo as acções negativas que o homem pratica contra o meio ambiente. Passam a palavra e mostram a importância das questões ambientais. Pretendem consciencializar as comunidades e ensinar às gerações vindouras o quão importante é preservar a biodiversidade. Para além das vastas planícies e montanhas repletas de espécies vegetais e de vários tipos de animais selvagens, como elefantes e gorilas, há uma coisa que irá sempre encontrar na floresta de Maiombe: um sorriso estampado nos rostos da terra.
Há histórias que ficam no tempo. Há vivências que ficam na memória. Há lugares que ficam marcados pela força, inata, de um Regedor. Ser Regedor não é estar sozinho, é fazer tudo em prol das comunidades. É o homem defensor. O que transmite as necessidades das populações junto da administração municipal. É ser o elemento com autoridade máxima. É este o papel de Januário Dembe, Regedor de Bembe Mbote, que desde os 24 anos assume este ofício com ‘unhas e dentes’. Hoje, com cerca de 70 anos, recorda o tempo da era colonial e conta-nos algumas das diferenças: «Não tínhamos muita expressão. Naquele tempo o subsídio era muito baixo mas a economia, os negócios, estavam em bom preço. Depois da independência ganhámos um subsídio mais estável mas não satisfaz as necessidades actuais que temos». O Regedor confessa que os tempos são outros e que houve mudanças positivas. Como por exemplo, terem recebido do Governo meios de transporte para facilitar as suas deslocações dentro das comunidades. Há uma vida social e melhores condições no que toca à educação, à saúde, às infra-estruturas e o simples facto de poderem dizer a verdade já é uma grande mudança. Os tempos são outros, mas a a hierarquia continua tradicional, tal e qual o era em outros tempos. O Regedor continua a tomar decisões. Continua a impor regras.

Com um clima tropical húmido, Cabinda acolhe a maior reserva natural de Angola, Maiombe. Milhares de hectares de vegetação dão vida a esta localidade, seja num belo dia de sol, seja num dia de nevoeiro cerrado. Aqui o encanto é único. Bem lá no norte de Angola descobrimos várias histórias e saberes da terra. Bem lá no noroeste de Cabinda, descobrimos Necuto, município de Buco-Zau. Aqui, conheça o mundo das trocas comerciais. Reza a lenda que este comércio já existe há centenas de anos. Não é de hoje. Existe já muito antes da vinda dos europeus para esta província. Na região pratica-se uma agricultura de subsistência. Uma terra rica em produtos naturais. Às margens do rio Chiloango pratica-se o comércio fronteiriço, aos sábados das 8h00 às 15h00, com a vizinha República Democrática do Congo (RDC). Neste mercado podem adquirir-se produtos do campo, tais como batata-doce, mandioca, feijão, banana, amendoim, coconote, óleo de palma, café – não tanto como há uns anos atrás – e comprar animais destinados ao consumo doméstico, como aves, porco, carne de caça, etc. «Antes fazíamos trocas mesmo, artigo por artigo. Hoje não acontece. Nós temos de ter dinheiro para comprar produtos aos nossos colegas da RDC e eles também para comprar os nossos», conta António, que iniciou a actividade no comércio em 1974, e desde então tem sentido as mudanças. Também o soba, Alberto, lembra que «no tempo colonial fazia-se a troca entre produtos e agora já não é mais assim. São poucos os que ainda conseguem fazer troca por troca». Estes dois povos têm usos e costumes idênticos. Há regras. A travessia do rio que liga estes dois países desde sempre foi movimentada. As pirogas, designação que usam para canoas, trazem os residentes do Congo, passam a margem, atracam na praça e, depois do serviço de migração dar a autorização para entrar no mercado, só resta vender. No final, as pirogas  regressam ao ponto de partida.

Madi-Muntima. Seu significado: «O que está no coração». E no coração deste grupo musical, deste povo, desta comunidade está muito além da tradição. Está a vontade de crescer. A vontade de se mostrar ao mundo. Revelar o que tão bem se faz num dos bairros em Maiombe: dançar! Rica em paisagens e gentes da terra, no seio da mãe natureza, na floresta do Maiombe, encontramos o Madi–Muntima. É ainda um embrião. Mas já com história para contar. «Não podemos deixar de o fazer. Ensinar os mais jovens e preservar as tradições é o que nós tentamos fazer todos os dias ao ritmo das nossas danças», revela Simão, coordenador do grupo, que de há quatro anos para cá tenta, pelo menos duas vezes por semana, junto da população de Chibaianga, ensaiar a sua dança tradicional, a Kituene. Aqui o ritmo é ao sabor da dança Kituene. É uma dança de origem congolesa democrática e é na região de Maiombe que ela tem maior destaque. É cativante. Por minutos, sentimos como se estivéssemos no meio do grupo a dançar, tal e qual os membros o fazem. Aqui não há idades. Desde os pequeninos até aos mais velhos, todos juntos se divertem e abrem os seus corações a este ritmo tão próprio. Usam os mais variados instrumentos rudimentares, que são feitos ali, na comunidade. O batuque, por exemplo, é composto, na parte de cima, por pele do animal, e a parte inferior é feita de árvore oca, trabalhada de forma a que seja produzido som. Um som que se coaduna com o sistema de música tradicional. Existem também o chacal e o kikuiti – este último feito de bambu –, que também servem para reproduzir sons, cada um distinto dos outros. É através do som que entra no ritmo tradicional que todos, unidos, dançam como ‘dançam’ as árvores quando a brisa lhes sopra. Na província de Cabinda existem vários géneros de danças típicas. Os mais velhos tendem a passar o testemunho às gerações vindouras. Ensinam-nas. Sempre com o mesmo intuito: não deixar cair no esquecimento as tradições. A música. Motivar os mais jovens para a prática das danças tradicionais é o objectivo de quem não quer ver a tradição desvanecer.  Das muitas danças tradicionais existentes na província, a dança Kintueni é já uma marca e uma aposta dos cabindas. Estas danças são uma forma de contribuir para o enriquecimento e diversificação da cultura da terra. Preservar a tradição e ir sempre à descoberta de novos valores culturais é o que o grupo Madi-Muntima tem vindo a fazer ao longo destes quatro anos de existência. Mantendo vivas as danças tradicionais. Já os antepassados as dançavam. Agora, as gerações mais novas reintroduziram estes ritmos nas suas vidas. Os cabindas, tanto no passado como no presente, dão valor às suas próprias tradições. Os costumes prevalecem na memória e nos actos de todo o cabindense.