Com um clima tropical húmido, Cabinda acolhe a maior reserva natural de Angola, Maiombe. Milhares de hectares de vegetação dão vida a esta localidade, seja num belo dia de sol, seja num dia de nevoeiro cerrado. Aqui o encanto é único. Bem lá no norte de Angola descobrimos várias histórias e saberes da terra. Bem lá no noroeste de Cabinda, descobrimos Necuto, município de Buco-Zau. Aqui, conheça o mundo das trocas comerciais. Reza a lenda que este comércio já existe há centenas de anos. Não é de hoje. Existe já muito antes da vinda dos europeus para esta província. Na região pratica-se uma agricultura de subsistência. Uma terra rica em produtos naturais. Às margens do rio Chiloango pratica-se o comércio fronteiriço, aos sábados das 8h00 às 15h00, com a vizinha República Democrática do Congo (RDC). Neste mercado podem adquirir-se produtos do campo, tais como batata-doce, mandioca, feijão, banana, amendoim, coconote, óleo de palma, café – não tanto como há uns anos atrás – e comprar animais destinados ao consumo doméstico, como aves, porco, carne de caça, etc. «Antes fazíamos trocas mesmo, artigo por artigo. Hoje não acontece. Nós temos de ter dinheiro para comprar produtos aos nossos colegas da RDC e eles também para comprar os nossos», conta António, que iniciou a actividade no comércio em 1974, e desde então tem sentido as mudanças. Também o soba, Alberto, lembra que «no tempo colonial fazia-se a troca entre produtos e agora já não é mais assim. São poucos os que ainda conseguem fazer troca por troca». Estes dois povos têm usos e costumes idênticos. Há regras. A travessia do rio que liga estes dois países desde sempre foi movimentada. As pirogas, designação que usam para canoas, trazem os residentes do Congo, passam a margem, atracam na praça e, depois do serviço de migração dar a autorização para entrar no mercado, só resta vender. No final, as pirogas regressam ao ponto de partida.
Madi-Muntima. Seu significado: «O que está no coração». E no coração deste grupo musical, deste povo, desta comunidade está muito além da tradição. Está a vontade de crescer. A vontade de se mostrar ao mundo. Revelar o que tão bem se faz num dos bairros em Maiombe: dançar! Rica em paisagens e gentes da terra, no seio da mãe natureza, na floresta do Maiombe, encontramos o Madi–Muntima. É ainda um embrião. Mas já com história para contar. «Não podemos deixar de o fazer. Ensinar os mais jovens e preservar as tradições é o que nós tentamos fazer todos os dias ao ritmo das nossas danças», revela Simão, coordenador do grupo, que de há quatro anos para cá tenta, pelo menos duas vezes por semana, junto da população de Chibaianga, ensaiar a sua dança tradicional, a Kituene. Aqui o ritmo é ao sabor da dança Kituene. É uma dança de origem congolesa democrática e é na região de Maiombe que ela tem maior destaque. É cativante. Por minutos, sentimos como se estivéssemos no meio do grupo a dançar, tal e qual os membros o fazem. Aqui não há idades. Desde os pequeninos até aos mais velhos, todos juntos se divertem e abrem os seus corações a este ritmo tão próprio. Usam os mais variados instrumentos rudimentares, que são feitos ali, na comunidade. O batuque, por exemplo, é composto, na parte de cima, por pele do animal, e a parte inferior é feita de árvore oca, trabalhada de forma a que seja produzido som. Um som que se coaduna com o sistema de música tradicional. Existem também o chacal e o kikuiti – este último feito de bambu –, que também servem para reproduzir sons, cada um distinto dos outros. É através do som que entra no ritmo tradicional que todos, unidos, dançam como ‘dançam’ as árvores quando a brisa lhes sopra. Na província de Cabinda existem vários géneros de danças típicas. Os mais velhos tendem a passar o testemunho às gerações vindouras. Ensinam-nas. Sempre com o mesmo intuito: não deixar cair no esquecimento as tradições. A música. Motivar os mais jovens para a prática das danças tradicionais é o objectivo de quem não quer ver a tradição desvanecer. Das muitas danças tradicionais existentes na província, a dança Kintueni é já uma marca e uma aposta dos cabindas. Estas danças são uma forma de contribuir para o enriquecimento e diversificação da cultura da terra. Preservar a tradição e ir sempre à descoberta de novos valores culturais é o que o grupo Madi-Muntima tem vindo a fazer ao longo destes quatro anos de existência. Mantendo vivas as danças tradicionais. Já os antepassados as dançavam. Agora, as gerações mais novas reintroduziram estes ritmos nas suas vidas. Os cabindas, tanto no passado como no presente, dão valor às suas próprias tradições. Os costumes prevalecem na memória e nos actos de todo o cabindense.